Famílias com Pessoa com Demência Têm Custos Mensais de 1600 Euros: Um Fardo Financeiro e Emocional Crescente
O impacto da demência nas famílias portuguesas está a aumentar de forma preocupante. Além do peso emocional causado pela deterioração cognitiva dos entes queridos, o custo financeiro associado aos cuidados de pessoas com demência está a tornar-se um fardo quase insustentável para muitas famílias. De acordo com um estudo recente realizado pela Alzheimer Portugal, o custo médio mensal que uma família enfrenta ao cuidar de uma pessoa com demência pode atingir os 1600 euros. Este valor inclui despesas com medicamentos, cuidados médicos especializados, adaptação da casa e, em muitos casos, serviços de apoio domiciliário ou institucionalização.
Crescimento dos casos de demência em Portugal
A demência, que inclui doenças como o Alzheimer, afeta cerca de 200 mil pessoas em Portugal, um número que se espera que continue a crescer devido ao envelhecimento da população. Estima-se que, até 2050, o número de pessoas afetadas pela demência possa duplicar, colocando uma pressão ainda maior sobre as famílias e o sistema de saúde. Com o aumento da longevidade, as taxas de incidência desta doença continuam a subir, mas as respostas sociais e de saúde pública ainda são insuficientes para lidar com a magnitude do problema.
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Custos diretos e indiretos
O estudo da Alzheimer Portugal revela que o custo médio de 1600 euros por mês refere-se apenas aos custos diretos, ou seja, aqueles diretamente relacionados com os cuidados necessários para a pessoa com demência. Estes incluem:
- Medicamentos e tratamentos médicos especializados – A maioria dos doentes com demência necessita de uma variedade de medicamentos para tratar os sintomas da doença e outras condições de saúde relacionadas com a idade. Estes medicamentos representam uma parte significativa do orçamento familiar, uma vez que nem todos são comparticipados pelo Sistema Nacional de Saúde (SNS).
- Cuidados pessoais e apoio domiciliário – Para muitas famílias, é necessário recorrer a cuidadores profissionais para ajudar nas tarefas diárias, como higiene, alimentação e administração de medicamentos. Estes serviços podem variar de 10 a 20 euros por hora, dependendo da região do país, o que rapidamente faz aumentar os custos mensais.
- Adaptações em casa – À medida que a doença progride, muitas casas precisam de ser adaptadas para garantir a segurança da pessoa com demência. Isto pode incluir a instalação de barras de apoio, rampas de acesso ou até modificações mais complexas, como a transformação de casas de banho para acessibilidade.
Além dos custos diretos, existem também os custos indiretos, como a perda de rendimento por parte dos familiares que precisam de reduzir ou abandonar o emprego para cuidar dos seus entes queridos. Este fator é especialmente preocupante, já que o impacto financeiro afeta não só o presente das famílias, mas também o seu futuro, nomeadamente em termos de reforma e estabilidade financeira a longo prazo.
Apoios do Estado: insuficientes e burocráticos
Embora existam alguns apoios estatais para as pessoas com demência e seus cuidadores, como o Subsídio de Assistência a Terceira Pessoa e o Complemento por Dependência, muitas famílias relatam que estes subsídios são insuficientes para cobrir as despesas totais. Além disso, o processo de obtenção desses apoios é muitas vezes moroso e burocrático, exigindo documentação extensa e repetidas avaliações médicas.
Para a Associação Alzheimer Portugal, é essencial que o governo adote políticas mais abrangentes e eficientes para apoiar as famílias que cuidam de pessoas com demência. “Precisamos de um plano nacional para a demência que inclua não só apoio financeiro, mas também um reforço dos serviços públicos de saúde especializados e apoio psicológico para as famílias,” afirma José Carreira, presidente da associação.
O papel dos cuidadores informais
Grande parte dos cuidados prestados às pessoas com demência em Portugal é realizada por cuidadores informais, geralmente familiares próximos, como filhos ou cônjuges. Estes cuidadores desempenham um papel crucial, mas muitas vezes enfrentam dificuldades de saúde física e mental devido à sobrecarga de trabalho e à falta de descanso. A fadiga, o stress e a depressão são comuns entre os cuidadores informais, que frequentemente se sentem isolados e sem o apoio necessário para continuar a prestar cuidados de qualidade.
O governo português reconheceu recentemente a importância dos cuidadores informais, aprovando a Lei do Estatuto do Cuidador Informal. Contudo, os especialistas afirmam que ainda há muito a fazer para que esta lei tenha um impacto real e efetivo. O reconhecimento dos cuidadores informais é um primeiro passo, mas as medidas de apoio, como subsídios específicos e pausas regulares para os cuidadores, ainda são insuficientes.
Soluções possíveis e o caminho a seguir
Para mitigar o impacto financeiro e emocional da demência nas famílias, é urgente implementar medidas mais eficazes de apoio. Entre as soluções propostas por especialistas, destacam-se:
- Reforço do apoio domiciliário – A criação de mais serviços públicos de apoio domiciliário especializado em demência, com profissionais treinados para lidar com esta condição, poderia aliviar parte da carga sobre as famílias.
- Maior comparticipação de medicamentos – O aumento da comparticipação estatal nos medicamentos para tratar a demência, bem como a implementação de novos programas de acesso gratuito a medicamentos para famílias de baixos rendimentos, seria uma medida fundamental para reduzir os custos.
- Programas de apoio psicológico – Tanto as pessoas com demência quanto os seus cuidadores necessitam de suporte psicológico regular para lidar com o impacto da doença. Programas de terapia, grupos de apoio e serviços de aconselhamento devem ser disponibilizados de forma gratuita e acessível em todo o país.
- Educação e formação – As famílias que cuidam de pessoas com demência muitas vezes carecem de formação adequada para lidar com os desafios que a doença apresenta. A oferta de cursos gratuitos de formação sobre cuidados e gestão de demência poderia equipar melhor os cuidadores com as ferramentas necessárias para prestar cuidados mais eficazes.
Resumo
Cuidar de uma pessoa com demência é um desafio monumental, tanto em termos emocionais quanto financeiros. As famílias portuguesas estão a enfrentar custos elevados, que ultrapassam os 1600 euros mensais, num sistema que ainda não oferece apoio suficiente. É fundamental que o Estado tome medidas concretas para aliviar esta carga, garantindo que os doentes com demência e as suas famílias possam receber os cuidados e o apoio de que tanto necessitam. Com o número de casos a aumentar, é imperativo que Portugal esteja preparado para lidar com esta crescente crise de saúde pública.