Tio de Ricardo Salgado revelou que sobrinho era único que “sabia e decidia tudo”
Na continuação das audiências que investigam o colapso do Banco Espírito Santo (BES), o tio de Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo, fez declarações marcantes que lançaram mais luz sobre os bastidores do comando da instituição financeira. Segundo José Manuel, Ricardo Salgado era o único responsável pelas decisões estratégicas e financeiras do banco, reforçando a figura de centralizador do seu sobrinho no conglomerado empresarial.
Testemunho-chave
José Manuel Espírito Santo, uma figura relevante dentro da estrutura familiar e do Grupo Espírito Santo (GES), foi ouvido pelo tribunal no âmbito do megaprocesso relacionado com o colapso do BES, que desencadeou uma das maiores crises financeiras em Portugal. Durante o seu testemunho, o tio de Ricardo Salgado declarou que o sobrinho “sabia e decidia tudo” dentro do banco, não deixando margem para dúvidas quanto à centralização do poder nas mãos do ex-presidente do BES.
Essas declarações reforçam uma das principais linhas de investigação das autoridades, que buscam entender até que ponto Ricardo Salgado tinha o controle absoluto sobre as decisões que levaram ao colapso da instituição, prejudicando milhares de investidores e abalando o sistema bancário português. José Manuel Espírito Santo, que também ocupou cargos de relevo no GES, foi categórico ao afirmar que Salgado era a única pessoa com pleno conhecimento sobre as operações do banco.
A Concentração do Poder em Ricardo Salgado
A concentração de poder nas mãos de Ricardo Salgado foi um dos fatores mais citados durante o processo que visa apurar responsabilidades na queda do BES. Diversos testemunhos já apresentados corroboram a ideia de que a gestão da instituição foi fortemente centralizada, com poucas ou nenhumas intervenções de outros membros do conselho de administração, que, segundo informações já divulgadas, apenas ratificavam decisões previamente tomadas pelo ex-presidente.
José Manuel Espírito Santo destacou que Ricardo Salgado tomava decisões importantes sem consultar outros membros da família ou do grupo. “Era o único que realmente sabia o que estava acontecendo e tomava todas as decisões”, afirmou, deixando claro que os outros gestores eram informados somente após as resoluções estarem tomadas. Essa centralização de poder foi frequentemente apontada como um dos fatores que contribuíram para a falência do banco.
O Colapso do BES e a Responsabilização
O colapso do Banco Espírito Santo, em 2014, marcou um dos capítulos mais negros da história financeira de Portugal. A falência do banco deixou milhares de clientes lesados, enquanto o governo teve de intervir com a criação do Novo Banco, numa tentativa de mitigar os impactos da queda. Desde então, Ricardo Salgado tem enfrentado uma série de processos judiciais que o acusam de gestão danosa, fraude e outros crimes financeiros.
A investigação apura como o banco chegou a uma situação de insolvência, sendo uma das principais questões se Ricardo Salgado agiu de maneira consciente e premeditada para esconder a real situação financeira do BES. As declarações do tio José Manuel reforçam a ideia de que Salgado estava plenamente ciente das consequências de suas decisões, o que pode pesar no desfecho do julgamento.
Implicações das Declarações
As declarações de José Manuel Espírito Santo não só colocam ainda mais pressão sobre Ricardo Salgado, mas também evidenciam a dinâmica familiar e de poder dentro do grupo. Ao longo das últimas décadas, o Grupo Espírito Santo, uma das maiores dinastias empresariais de Portugal, era conhecido pela sua estrutura hierárquica, onde Ricardo Salgado desempenhou um papel preponderante, comandando as operações do grupo e do banco.
A queda do BES não só destruiu a reputação de uma das maiores instituições financeiras do país, mas também abalou a confiança no sistema bancário português. Milhares de investidores perderam as suas poupanças, e o impacto da falência foi sentido em vários setores da economia. O processo judicial, que está em andamento, procura responsabilizar os envolvidos e apurar se houve negligência ou intenção deliberada por parte da administração do banco.
Contexto Familiar
O testemunho de José Manuel Espírito Santo revela uma faceta mais pessoal do processo, colocando o foco na relação familiar e no papel de Ricardo Salgado dentro do clã Espírito Santo. A sua centralização de poder não se limitava apenas ao banco, mas também se estendia às empresas do grupo familiar, onde ele detinha forte influência.
Além disso, a figura de Ricardo Salgado, que durante muitos anos foi apelidado de “Dono Disto Tudo” (DDT), tem sido alvo de uma desconstrução à medida que os processos judiciais avançam. O desmoronamento do império financeiro do Grupo Espírito Santo e as revelações sobre a gestão de Salgado criaram um clima de desconfiança generalizada, que ainda ecoa no cenário econômico português.
A Batalha Judicial Continua
Enquanto o julgamento continua, espera-se que mais membros da família Espírito Santo e antigos gestores do banco prestem depoimentos que possam ajudar a esclarecer o colapso do BES. O processo tem revelado os meandros das operações internas do banco e do grupo, expondo práticas que até então eram desconhecidas do grande público.
No entanto, o futuro judicial de Ricardo Salgado continua incerto. Embora as declarações de José Manuel Espírito Santo reforcem o peso das acusações contra ele, o ex-banqueiro nega consistentemente as acusações, afirmando que agiu sempre no melhor interesse do banco e dos seus clientes.