IGAS Encontra Seis Casos de Negligência no Hospital de Faro

IGAS Encontra Seis Casos de Negligência no Hospital de Faro

Faro, 24 de setembro de 2024 — A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) revelou esta terça-feira que encontrou evidências de negligência médica em seis casos no Hospital de Faro, no Algarve, após uma investigação de três meses iniciada devido a diversas denúncias de familiares de pacientes e profissionais de saúde. Os casos envolvem supostas falhas graves no atendimento a doentes em áreas críticas como urgências, cuidados intensivos e internamento.

Contexto da Investigação

A investigação da IGAS foi iniciada em junho deste ano, após o aumento de reclamações relativas ao atendimento no Hospital de Faro, uma das principais unidades hospitalares do sul do país. O relatório divulgado esta semana destaca problemas recorrentes na prestação de cuidados de saúde e aponta para deficiências em vários níveis, incluindo a falta de recursos humanos e falhas nos protocolos de tratamento.

Segundo o relatório da IGAS, os seis casos de negligência identificados envolveram desde atrasos na realização de diagnósticos até erros no tratamento, com consequências graves para os pacientes, incluindo óbitos e agravamento de condições clínicas. A investigação centrou-se em episódios que ocorreram nos últimos 18 meses, e que envolvem tanto pacientes idosos como mais jovens, incluindo uma criança.

Detalhes dos Casos de Negligência

Entre os casos destacados pela IGAS, um dos mais graves envolve a morte de um paciente de 65 anos que deu entrada nas urgências do hospital com sintomas de enfarte do miocárdio. De acordo com o relatório, o doente esperou mais de seis horas para ser atendido por um cardiologista, o que terá contribuído para o desfecho fatal. O documento sublinha que o tempo de resposta foi “manifestamente inadequado” e violou os protocolos de atendimento de emergência.

Outro caso referenciado no relatório foi o de uma mulher de 42 anos com um quadro de septicemia, que alegadamente recebeu tratamento inadequado. A paciente faleceu três dias após ser internada, e a família alega que houve demora na administração dos antibióticos necessários, além de falhas na monitorização da evolução clínica.

A investigação da IGAS também identificou um caso de negligência pediátrica, em que uma criança de oito anos, com uma infeção respiratória grave, não recebeu a intervenção médica adequada. O relatório aponta para uma falha na comunicação entre a equipa médica, o que resultou numa intervenção tardia e num prolongamento do período de recuperação.

Resposta do Hospital de Faro

A administração do Hospital de Faro, em comunicado, manifestou-se “profundamente preocupada” com as conclusões da IGAS, mas salientou que já estão em curso medidas corretivas para melhorar a qualidade dos serviços prestados. “Estamos empenhados em reforçar a nossa capacidade de resposta nas áreas críticas e em garantir que os nossos pacientes recebem os melhores cuidados possíveis”, disse a administração, que prometeu também uma investigação interna para apurar responsabilidades.

O hospital também referiu a falta de recursos humanos como um dos fatores que contribuem para os problemas identificados. “Temos sofrido com a escassez de médicos e enfermeiros, especialmente em áreas especializadas como cardiologia e pediatria, o que tem sobrecarregado os profissionais e aumentado o tempo de resposta”, acrescenta a nota oficial.

Reações dos Familiares e Sindicatos

Os familiares das vítimas envolvidas nos casos de negligência expressaram indignação face às conclusões do relatório. Alguns já haviam iniciado processos judiciais contra o hospital, exigindo justiça e responsabilização. “Perdi o meu pai por causa de uma espera interminável e desnecessária. Não consigo aceitar que, num país como Portugal, alguém morra por falta de atendimento médico adequado”, disse Maria Lopes, filha de uma das vítimas.

Os sindicatos dos profissionais de saúde também reagiram com preocupação, sublinhando que a negligência identificada é, em parte, resultado da falta de condições de trabalho no Hospital de Faro. “Há anos que alertamos para a sobrecarga dos profissionais de saúde nesta unidade. O número de doentes a cada turno é insustentável, e a falta de recursos agrava os erros”, afirmou um representante do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Medidas da IGAS e Ministério da Saúde

A IGAS recomendou a implementação imediata de um plano de ação para melhorar os serviços no Hospital de Faro. Entre as medidas sugeridas estão o reforço das equipas médicas nas áreas mais críticas, a revisão dos protocolos de atendimento e o investimento em formação contínua para os profissionais de saúde.

O Ministério da Saúde, por sua vez, reconheceu a gravidade das conclusões e anunciou que irá acompanhar de perto a implementação das medidas recomendadas pela IGAS. A ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou que a segurança dos pacientes é “absolutamente prioritária” e garantiu que serão tomadas todas as providências para evitar a repetição de casos semelhantes.

“A negligência médica é intolerável e, embora a maioria dos nossos profissionais de saúde desempenhe as suas funções com enorme dedicação, não podemos permitir que falhas como estas passem impunes. A confiança no sistema de saúde depende da sua capacidade de garantir segurança e eficiência”, afirmou a ministra.

Impacto no Sistema de Saúde

Os casos de negligência no Hospital de Faro abrem um debate mais amplo sobre o estado da saúde pública em Portugal, particularmente no que diz respeito à gestão de hospitais em regiões menos centrais. O Algarve, sendo uma das principais zonas turísticas do país, enfrenta uma pressão significativa sobre os seus serviços de saúde, especialmente durante os meses de verão, quando o número de doentes aumenta exponencialmente.

Analistas de saúde pública apontam para a necessidade de uma maior descentralização dos recursos, bem como a contratação de mais profissionais de saúde para atender à crescente demanda. A falta de investimentos estruturais em alguns hospitais regionais tem contribuído para o aumento das queixas de negligência, segundo especialistas.

Conclusão

As conclusões da IGAS sobre os casos de negligência no Hospital de Faro expõem falhas graves no sistema de saúde e sublinham a necessidade urgente de reformas estruturais para garantir que episódios semelhantes não se repitam. Com a pressão crescente da opinião pública e dos familiares das vítimas, o Governo terá de agir rapidamente para restaurar a confiança no hospital e no sistema de saúde em geral.

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