A herança manchada dos anos Merkel-Obama.

**A herança manchada dos anos Merkel-Obama**

Durante o período em que Angela Merkel e Barack Obama estiveram à frente da Alemanha e dos Estados Unidos, respectivamente, o mundo passou por transformações políticas, econômicas e sociais significativas. Contudo, a maneira como ambos os líderes lidaram com questões-chave—como a agressão da Rússia, a ascensão da China e a instabilidade no Oriente Médio—deixou uma marca duradoura e complexa que ainda ressoa nos dias de hoje.

Merkel, conhecida como a “dama de ferro” da Alemanha, assumiu o cargo em 2005 e governou em um contexto de crescente incerteza global. A crise financeira de 2008, a crise da dívida europeia e a crise dos refugiados em 2015 foram desafios que exigiram uma liderança decisiva. Ao mesmo tempo, a relação transatlântica entre os EUA e a Europa passou por tensões e mudanças significativas, especialmente sob a administração Obama, que se caracterizou por uma política de “olhar para o leste” em relação à Ásia.

No entanto, um dos pontos críticos que tanto Merkel quanto Obama não conseguiram abordar de forma eficaz foi a agressão russa, especialmente a anexação da Crimeia em 2014. A resposta ocidental foi marcada por sanções econômicas, mas essas medidas não impediram a crescente ousadia da Rússia sob Vladimir Putin. A inércia política em relação à situação na Ucrânia acabou por fortalecer a posição russa na região, criando um ambiente de instabilidade que persiste até hoje.

Além disso, a ascensão da China como superpotência econômica e militar foi outro fator que desafiou a ordem mundial. Sob a administração de Obama, a estratégia de “pivotar para a Ásia” buscava colocar mais foco na diplomacia e na colaboração multilateral, mas essa abordagem muitas vezes se mostrou inadequada diante da postura assertiva de Pequim no Mar do Sul da China. Merkel, por sua vez, procurou manter um diálogo com a China baseado no comércio e na cooperação, mas isso se traduziu em uma relutância em confrontar práticas comerciais desleais e violações de direitos humanos.

No Oriente Médio, a administração Obama foi marcada pela retirada das tropas do Iraque e pelo acordo nuclear com o Irã. Merkel, embora apoiando a abordagem diplomática, também foi criticada por sua resposta à guerra civil na Síria, onde a crise humanitária se agravou rapidamente. A falta de uma estratégia clara para lidar com a crescente violência e ao influxo de refugiados teve um impacto significativo na política europeia e na ascensão de movimentos populistas.

A herança deixada por Merkel e Obama é, portanto, uma mistura de realizações e falhas. Embora ambos tenham tentado promover uma política de diálogo e cooperação, a negação ou a subestimação das ameaças emergentes contribuiu para a fragilização das estruturas de segurança global. O mundo atual, marcado por incertezas e rivalidades geopolíticas, pode ser visto como resultado de um período em que a resposta a adversidades era muitas vezes adiada ou mal interpretada.

Enquanto desafios persistem, é essencial aprender com as lições dos anos Merkel-Obama para moldar um futuro mais estável e seguro. O reexame das políticas e a busca por uma liderança mais assertiva e visionária são cruciais para enfrentar os problemas complexos que o século XXI nos apresenta.