Menos ofegante: Conselho de Redação da RTP pede a Montenegro que se retrate por declarações sobre jornalistas

O Conselho de Redação da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) solicitou publicamente ao líder do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, que se retrate em relação a recentes declarações que fez sobre jornalistas da estação pública. O pedido formal surge após Montenegro ter usado a expressão “menos ofegante” ao referir-se ao trabalho de alguns jornalistas, o que gerou uma onda de críticas por parte de profissionais da comunicação e da sociedade civil.

A frase foi proferida durante uma entrevista em que Montenegro comentou a cobertura feita pela RTP sobre eventos políticos recentes. “Há jornalistas que deviam ser menos ofegantes nas suas reportagens, principalmente quando cobrem ações do PSD”, disse o líder partidário, em tom que foi considerado desrespeitoso e depreciativo por vários setores. A expressão “menos ofegante” foi amplamente interpretada como uma crítica ao profissionalismo e à independência editorial dos jornalistas da RTP.

Reação imediata da RTP

O Conselho de Redação da RTP reagiu prontamente às declarações de Montenegro, classificando-as como “infelizes e desrespeitosas”. Em comunicado oficial, o órgão responsável por zelar pela qualidade editorial e ética jornalística da estação afirmou que a crítica de Montenegro reflete um “desconhecimento profundo” sobre o trabalho jornalístico e uma “tentativa de descredibilizar” a cobertura imparcial que a RTP realiza.

“O jornalismo, por definição, deve ser rigoroso, rápido e isento. O uso do termo ‘menos ofegante’ é uma tentativa de sugerir que o trabalho dos nossos jornalistas é, de alguma forma, impróprio ou desajustado, o que não corresponde à verdade”, lê-se na nota divulgada pelo Conselho. Além disso, o comunicado sublinha que a liberdade de imprensa é um pilar fundamental da democracia portuguesa e que comentários como o de Montenegro podem comprometer essa liberdade.

Impacto nas redes sociais

As declarações de Montenegro rapidamente se tornaram virais nas redes sociais, gerando uma intensa discussão sobre o papel dos jornalistas e a relação entre a política e os meios de comunicação. Personalidades de várias áreas, incluindo jornalistas, académicos e figuras públicas, manifestaram-se contra a postura do líder do PSD, argumentando que comentários como o dele promovem uma cultura de desconfiança em relação à imprensa.

A jornalista Clara Almeida, uma das mais conceituadas profissionais da RTP, partilhou nas redes sociais uma mensagem de desagrado: “Trabalhamos todos os dias para garantir que o público recebe informações verídicas, bem apuradas e com a devida imparcialidade. Ouvir um líder político fazer este tipo de comentário é profundamente desmotivador e injusto”. O comentário de Clara foi amplamente partilhado, refletindo o sentimento generalizado entre os jornalistas da RTP.

Leia também: O tamanho global do mercado de copolímero de bloco de olefina (OBC) foi de 103,40 milhões de dólares em 2023, este relatório cobre o crescimento do mercado, tendência, oportunidade e previsão 2024-2030

O contexto político

A troca de críticas entre a imprensa e figuras políticas não é um fenómeno novo em Portugal. Ao longo dos anos, vários líderes partidários expressaram, de forma mais ou menos explícita, descontentamento com a cobertura jornalística das suas ações. No entanto, as declarações de Montenegro parecem ter atingido um nervo sensível na atual conjuntura política.

O PSD, sob a liderança de Luís Montenegro, tem enfrentado um período de dificuldades, com resultados eleitorais aquém do esperado e uma crescente pressão interna. Analistas políticos sugerem que o comentário dirigido aos jornalistas da RTP pode ser visto como uma tentativa de desviar a atenção dos desafios internos do partido. Montenegro, por sua vez, não se mostrou arrependido das suas declarações e reiterou que “o jornalismo deve ser feito com serenidade e distanciamento”, recusando-se, até ao momento, a emitir um pedido de desculpas.

A defesa de Montenegro

Em resposta às críticas, Luís Montenegro emitiu um breve comunicado, no qual defendeu as suas palavras e negou qualquer intenção de desrespeitar os jornalistas. “Não se trata de atacar o jornalismo ou os profissionais da RTP, mas sim de apelar a uma cobertura mais ponderada e menos emotiva”, explicou. Segundo o líder do PSD, a frase foi mal interpretada e fora de contexto.

Apesar desta defesa, o clima de tensão entre Montenegro e os jornalistas da RTP permanece elevado. A Federação Portuguesa de Jornalistas (FPJ) também se pronunciou, pedindo ao líder social-democrata que reconsidere a sua postura em relação à imprensa, sublinhando que “comentários que colocam em causa a seriedade do jornalismo afetam a confiança do público nos meios de comunicação”.

Consequências futuras para a relação imprensa-política

Embora Montenegro não tenha, até agora, recuado nas suas declarações, a situação poderá ter repercussões na forma como os políticos portugueses interagem com os meios de comunicação. A liberdade de imprensa em Portugal é amplamente protegida pela Constituição, e ataques verbais a jornalistas têm sido alvo de críticas por parte de organizações nacionais e internacionais.

Em 2023, Portugal ocupava o 7.º lugar no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, uma classificação elevada que reflete o bom estado de saúde da imprensa no país. No entanto, incidentes como este levantam questões sobre os limites do discurso político em relação ao trabalho jornalístico e a necessidade de salvaguardar a independência dos meios de comunicação.