Fusão de empresas na Corticeira Amorim já custou 4 milhões em rescisões com 102 trabalhadores, diz sindicato
A fusão de empresas do grupo Corticeira Amorim, uma das maiores indústrias de cortiça do mundo, já resultou num custo de 4 milhões de euros em rescisões de contratos com 102 trabalhadores, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras de Cortiça e Afins (SINTICOR). O processo de reestruturação e fusão de diversas subsidiárias, iniciado no início deste ano, tem gerado preocupações tanto entre os trabalhadores quanto entre os seus representantes sindicais, que questionam o impacto social e económico da medida.
O processo de fusão
A Corticeira Amorim, sediada em Mozelos, Santa Maria da Feira, é líder mundial no setor da cortiça, com operações em mais de 100 países e cerca de 4.000 funcionários. No início de 2024, a empresa anunciou um plano de reestruturação que incluía a fusão de várias das suas subsidiárias e unidades de negócio. O objetivo, segundo a administração, é aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e fortalecer a competitividade no mercado global.
Contudo, esse processo de fusão e centralização de operações tem implicado a extinção de postos de trabalho. De acordo com o SINTICOR, 102 trabalhadores foram alvo de rescisões amigáveis, com compensações que, somadas, já ultrapassam os 4 milhões de euros. O sindicato, embora reconheça que o processo tem seguido os termos legais, expressa preocupação com as consequências sociais desta fusão para os trabalhadores dispensados e para as suas famílias.
Reações sindicais
O SINTICOR tem-se mostrado crítico em relação ao plano de fusão. Em declarações recentes, Carlos Silva, dirigente do sindicato, afirmou que as rescisões não foram acompanhadas de medidas adequadas para garantir a requalificação dos trabalhadores afetados. “O que estamos a ver é um processo de reestruturação que, na prática, significa despedimentos encapotados. As compensações financeiras podem aliviar a situação momentaneamente, mas não substituem a perda de postos de trabalho estáveis num setor historicamente importante para a economia local”, afirmou Silva.
De acordo com o sindicato, muitas das funções suprimidas eram desempenhadas por trabalhadores com longos anos de serviço na empresa, alguns com mais de 20 anos de casa. “Estamos a falar de pessoas que dedicaram uma vida inteira à Corticeira Amorim. A empresa deveria estar a promover planos de reconversão ou requalificação profissional, em vez de simplesmente recorrer à rescisão contratual”, acrescentou o representante sindical.
A posição da Corticeira Amorim
Por outro lado, a administração da Corticeira Amorim tem defendido a fusão como uma estratégia necessária para garantir a sustentabilidade a longo prazo da empresa num mercado global cada vez mais competitivo. Em comunicado, a empresa afirmou que “a centralização das operações permitirá um melhor aproveitamento de recursos e uma maior capacidade de inovação, essenciais para manter a liderança no setor”.
A Corticeira Amorim reforçou que o processo de rescisão foi feito de forma voluntária, e que as compensações oferecidas estão acima dos mínimos legais exigidos. “O processo foi conduzido de forma transparente, com total respeito pelos direitos dos trabalhadores, e envolveu um diálogo aberto com as estruturas sindicais”, refere o comunicado.
Ainda assim, a empresa reconhece que este é um período de transição difícil para os trabalhadores e para a comunidade local, mas reafirma o seu compromisso com a responsabilidade social. “Continuamos a apoiar programas de formação e estamos a avaliar formas de mitigar os impactos sociais desta reestruturação”, acrescenta a nota da administração.
Impacto local e económico
A Corticeira Amorim tem um papel fundamental na economia da região de Santa Maria da Feira, onde se concentram muitas das suas fábricas e escritórios. A fusão das empresas e a subsequente redução do número de trabalhadores têm levantado preocupações entre as autoridades locais e os habitantes, que dependem em grande medida da indústria da cortiça.
Economistas regionais alertam para o impacto que este tipo de reestruturações pode ter em municípios como Santa Maria da Feira, onde a indústria da cortiça representa uma parcela significativa da atividade económica. Jorge Antunes, professor de economia industrial na Universidade de Aveiro, explicou que “quando uma empresa deste porte reduz postos de trabalho, o impacto vai muito além dos funcionários diretamente afetados. Há efeitos indiretos em pequenas empresas que fornecem bens e serviços à Corticeira Amorim, sem mencionar a diminuição da circulação de rendimento nas economias locais.”
Por outro lado, há também quem defenda que o processo de fusão pode fortalecer a posição da Corticeira Amorim a longo prazo, garantindo maior eficiência e resiliência em tempos de incerteza económica global. “Num contexto de globalização, a centralização de operações pode ser vista como uma medida necessária para que a empresa se mantenha competitiva face a concorrentes internacionais”, afirmou Antunes.
Futuro incerto para os trabalhadores
Para muitos dos trabalhadores afetados, o futuro é incerto. Embora a maioria tenha aceitado as compensações oferecidas, a realidade do desemprego num mercado laboral cada vez mais competitivo pesa sobre estas famílias. “Aceitei a rescisão porque me disseram que seria o melhor para mim, mas agora, aos 48 anos, não sei onde vou conseguir emprego”, disse um ex-trabalhador da Corticeira Amorim que preferiu não se identificar.
O SINTICOR está a exigir que o governo intervenha, apelando para a criação de programas de requalificação profissional para os trabalhadores despedidos. “É essencial que o governo e a empresa trabalhem em conjunto para garantir que estas pessoas não fiquem abandonadas após décadas de serviço”, concluiu Carlos Silva.
Conclusão
A fusão das subsidiárias da Corticeira Amorim e a consequente redução do número de trabalhadores, com rescisões que já custaram à empresa 4 milhões de euros, é um reflexo das pressões económicas e das mudanças no setor industrial. Embora a administração da empresa defenda que estas medidas são necessárias para garantir a sua competitividade, o impacto nas famílias e na economia local é inegável. O futuro da Corticeira Amorim, e dos seus trabalhadores, dependerá da capacidade da empresa de equilibrar eficiência económica com responsabilidade social.